February 10, 2007

Cantos

Fotografia de ezgilule


Eu e o meu lápis, a um canto, encolhidos, enrolados em sentimentos calados que se quedam ao bater deste brinquedo de corda.
Eu e o meu lápis, há quanto tempo nos tínhamos esquecido um do outro, o encontro, o único verdadeiro encontro que existe. Recordo-te, lápis, em silêncio. Tenho-te dado os meus silêncios sempre que não soube escrever, hoje encolho-me, enrolo-me no canto onde tu me esperas, como sempre.
Tenho palavras daquelas que não se dizem, daquelas que não se escrevem. Tenho lágrimas daquelas que não caem nem secam. Tenho um brinquedo de corda que não sabe se bater, se calar.
(Baixinho) Tenho silêncios daqueles tão fortes que nos amarram as entranhas, sugam o canto da alma, nos hipnotizam os momentos… Tenho silêncios que baixaram as cortinas da casa onde me moro.
Hoje não venhas, hoje não batas à porta. Deixa-me, como sempre deixaste, à tua espera. Vamos fingir que não é normal, fazer de conta que é só desta vez para que amanhã possa acordar e esperar a tua volta, uma vez mais só como se fosse a primeira.
Deixa-me ser cega, surda e muda, brincar com a realidade como quem faz truques de fogo. Deixa-me inventar os meus dias, sofrer por não acordar da pobre nostalgia que um dia te esqueceste de levar.
Esquece-te! Esquece-te de que te espero, pois já nem eu quero que lembres a minha espera. E, se um dia olhares para ti, que não vejas o vazio que te ficou.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Sabe bem "brincar com a realidade como quem faz truques de fogo"...

1:47 AM  

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