July 12, 2006

O pó do Passar

(...)
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus


[Eugénio de Andrade - Adeus]



Conheci o teu melhor e o teu pior
Guardo os dois em fracções
Recordações.
Com a maturidade do crescimento
Começa-se a esbater como fumaça
Essa tua imagem que pintei perfeita na vidraça

Dei-te mais do que me permiti
Esperei-te em todos os verbos que descobri
Sempre transitiva no desejo do teu complemento

Com os dias
Vêm os cantos arrumados
O pó que foge das prateleiras
De palavras mortas na boca das mãos

É tempo de Misericórdia!

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Só crê na dita perfeição aquele cuja força, para acreditar que as imagens são desenhos abstractos de linhas incompletas, não lhe foi concebida à nascença. Gosto de te ler, talvez em palavras soltas, sem rima nem ordenação mas sempre completas as sílabas que preenches.
Tem um bom dia, beijo.
Diana

8:58 AM  
Blogger Unknown said...

gostei muito.
Miguel

11:18 AM  
Blogger cm said...

"Com os dias
Vêm os cantos arrumados
O pó que foge das prateleiras
De palavras mortas na boca das mãos"

O que dizer perante palavras tão únicas, tão verdadeiras... Sublinhá-las e destacá-las!

Felizmente o pó das minhas prateleiras, acabei de o limpar recentemente, embora estivesse dificil acabar a limpeza... mas lá acabei!
Está tudo limpo e desinfectado!

Beijo

10:27 AM  
Blogger cvarao said...

está fortíssimo este post...

2:47 PM  

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