Mentir a vida
Fiz o jantar para dois, sobrou a tua comida. O prato intocável, o talher na mesma posição.
Esqueci-me de te esquecer.
Tinha tomado o banho que os enamorados tomam… a água quente no corpo que viaja sonhador, o creme que escorrega com o lembrar da mão do outro a navegar e queimar cada pedaço de pele que toca.
Imaginei roupas, só consegui pensar em ti a despir-me com tantos sonhos quanto eu.
É já fim de noite. Eu, a caneta e o mar.
Sozinha para não ter de esconder os meus olhos.
Chega de poesias. Palavras que rimam, vírgulas em sítios coerentes, parágrafos quando só quero continuar.
Lá em baixo, casais em passos que esquecem a vida. De que importa a vida se está tudo ali… o amor. Ele e Ela. Que saudades!
Em que lugar do mundo outra coisa importa?
Quem escreve é o coração. E, simples, ele diz:
Todos os passos que dou sentem falta do som dos teus pés a caminharem do meu lado.
Finjo aguentar os restos que me atiras. Até toco o sino com a tromba quando me dás uma moeda. Mas à noite, quando me deito, a cama que antes parecia pequena, nasce gigante… e os sonhos são só pesadelos que ajudam as horas passar na esperança vã que um dia voltes à casa que ainda é tão e só tua.