December 22, 2006

Foste o dia 30 de Fevereiro num ano por inventar

Eles conheceram-se longe, cada um bem afastado do seu quotidiano. Olharam-se, sorriram, evitaram-se.
Enrolaram-se no lençol das estrelas e prolongaram a noite sob a bênção da lua. A conversa fluía com a destreza dos malabaristas e encanto das trapezistas.
Ao tocar enfeitiçaram-se, era inútil fugir, queriam-se sem se assumir, eram monstruosos os medos de amar que se erguiam.
Desistiram, sentiam-se como barquinho a remar contra a maré. Eram derradeiras as emoções, os choques físicos tão fortes que ecoavam bem lá dentro, num peito adormecido. Desistiram, amaram-se.
O universo misturou os dois corpos, sagrou-os. Porque sagrado é a verdade e não havia mais nenhuma, naquele momento, senão o seu amor.
Eram cheiros novos que abriam baús de outras vidas, eram carícias esquecidas reencontradas nas pontas dos dedos, eram vontades cavaleiras que viajaram séculos para cumprirem a profecia do encontro.


Ele partiu, deixou nela a triste saudade de uma verdade que não conheceu fim. Levou com ele o anel que ela sempre usava, sonhando, sempre que o olhava, num casamento que não aconteceu.
Guardam, para sempre, verdades que diariamente questionam pela partida sem explicação.
Ela nunca deixou de sonhar. Adormeceu enquanto lhe escrevia a última carta de amor.

December 15, 2006

Rima Perfeita

Fotografia de Gilrtripped


De olhar vago e dedos flutuantes, deito-me ao luar e sorrio.
Perco-me no pecado que é ter-te. Pecado salvador. Redenção.
Amei-te, trago o teu cheiro entranhado no meu corpo leve.
Amo-te, viajo com a tua essência impregnada na minha alma.

De que são feitas as palavras senão de letras que se querem amar?
Entrego-me, porque também eu sou palavra que encontrou noutra a rima perfeita


December 05, 2006

Há uma alma à minha frente


Foram-se as folhas de papel de palavras rápidas e sentidos trágicos, foram-se os blogs preferidos, hoje são espaços inexistentes, foram-se os ponteiros de relógios parados num amor partido.
Foram águas, foram mágoas. São dedos que te deixaram e se enfiaram nos bolsos, está frio, usam-se luvas, escondem-se as marcas de pescoços feridos com golas altas.
Hoje não sei onde deixei todas as palavras que me faziam poeta, olho e perco-me em montanhas de acontecimentos tão rápidos que não esperam ser processados.

Sorrio, agradeço os dias, mesmo que tristes. Sei-me feliz e cheia de vida. Danço, danço no meu palco que me leva a paragens nunca sonhadas. Dou passos mais largos, mais soltos, entregue à música de compositor desconhecido, bailo possuída, esquecida de quem me olha.
E se a sala estiver vazia, hoje eu sei acabar e aplaudir-me.
Há bailarinas nos meus olhos.
Deixo-vos sabrinas debaixo da cama para que, de noite, venham dançar junto a mim. Venham…!