October 30, 2005

Em que rua moro?


Fico com traços de ti
Que não deixas em mim
Brotam dores
P’ras quais não estás ‘nem aí’
Escondo chagas
Que mutilam um interior perdido
Sonho
Sonho-te constantemente
Peço-te em silêncio
‘Fica comigo esta noite’
Uma noite não me chega
Viro-me as costas
Estou cansada de mim
Caminho em oposição de fase
O horizonte dilui-se na tua partida
Já não sei por onde vou
Que florestas percorro.
Larguei-me
Para oprimir a dor que me afaga os cabelos

Estou em queda vertiginosa
Raspo a mil à hora
Por escarpas que me rebentam
Se ao menos estivesse a apreciar a queda
Se ao menos fechasse os olhos e visse o belo
Se ao menos alguém chorasse a minha morte
Se ao menos tu… Se ao menos tu!

O que é Nacional também pode ser bom


Na televisão, vi algumas críticas sobre o filme, entrevistas com os actores... Na noite passada fui ao cinema e decide-me pel' O Crime do Padre Amaro (verdade seja dita, o primeiro filme português que vi no cinema).
Bem, o filme foi maravilhoso. Excelente elênco, uma banda sonora extraordinária, muito bem adaptado aos tempos de hoje e, ou não fosse do Eça, uma grande história.
Em suma, um filme a não perder!
Fiquei encantada por um filme português me ter deixado tão bem impressionada ;)
Parabéns aos actores, ao realizador (Carlos Coelho da Silva) e a todos aqueles que, em vez de um filme americano, se encantaram com um português

October 26, 2005

Hoje foi assim...

Devaneios

Tenho todos os sentidos confundidos num
Que és tu
Todos os desejos tolos
Nascem e morrem
Na metáfora que és,
Na hipérbole de te ter.
Todas as minhas fugas
Se encontram num único ponto
Ponto de fuga
O brilho de te amar
Descobrindo-me no teu querer
Encontra-me para que me possa perder
Sem culpas
Culpar-te da minha felicidade
Sem pudores
Despir-me e vestir-me de ti
Sem mais desejos
Tocar-te e parar o Tempo.


Demoro-me nas letras na esperança de que este poema não mais acabe, cada palavra tem o cheiro perdido de uma ilusão real que vivi sem por ela ter a possibilidade de morrer.

Música no Castelo: Filarmónica Gil - Deixa-te ficar na minha casa

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Gostaria de poder escrever, escrever, escrever até o braço doer, arrancando as palavras que vivem dentro de mim e, cheia de fúria, colá-las ao papel, pregá-las até para que não mais saiam, para que não mais as tenha de engolir.
Estão vivas cá dentro, não param de mexer, agitadas e tristes gritam o meu dia de preto.

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Estou louca, imagino-me em nadas redondos. Estou louca, não quero escrever mais. Que a merda desta solidão se apague ou me consuma de vez!

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A música encontrou-me
Abriu os braços
Embrulhou-me em notas quentes
Que derreteram o gelo da Alma
A música trespassa-me
Em segredo ama-me
Constrói o castelo
Que o vento do mundo
Hoje destruiu.

Música no Castelo: Loreena Mckennitt – Dicken’s Dublin (The Palace)

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Haverá um momento em que o silêncio me inunda e toma. A escravidão das palavras atormenta-me…
Mal agradecida, as palavras resgatam a minha solidão. Pagam aos sequestradores a minha liberdade.

silênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilênciosilêncio

October 24, 2005

A minha nuvem

Na varanda o vento beija-me
O sol meigo cumprimenta-me
Os prédios enormes que me rodeiam
Deixaram de me cercar.
Não olho mais para o céu,
Faço parte dele
Solto-me numa nuvem
que se demora no meu corpo
Toca-me inteira e avassaladoramente
Eu não estremeço!
Não sinto o gelo
Estudado pelos homens.
A minha nuvem parou
Parou porque lhe apeteceu
Porque não tem para onde ir
Porque não lhe importa o que há-de vir
A minha nuvem sentiu
O sabor de mil vidas que hoje se cruzaram
A minha nuvem

Espreitei da nuvem, vi apenas nevoeiro. Não me assustei, não pedi
aquilo que não podia avistar, não gritei cores… espreitei e sorri… impávida,
cansada, leve… um dia o motor da minha nuvem há-de voltar a trabalhar… Quem
sabe!

Música no Castelo: Staind - Right Here

October 23, 2005

Há Fantasmas

Há Fantasmas que me comem as noites. Há, nesses momentos, gritos de socorro que se perdem no ar pesado de quartos que me aprisionam. Há o constante pesadelo em que peço salvamento, dilacerada pelo terror que me entope as narinas, mas a voz não sai.
Fantasmas que mastigam os meus sonhos, se aninham no meu desespero e eu... rodo, rodo, encolho-me o mais que a física permite, giro, desperto, bato as pestanas o mais que posso nas pálpebras, arregalo os olhos, que quase me saem das órbitas, para enfrentar os meus inimigos invisíveis. Rezo, perco-me em orações mágicas que levem dali aquela
noite de tormenta... Mas a varinha salvadora esqueceu-se de mim, e eu choro
agarrada à dor de sentir o medo rebentar-me as entranhas.
Estou encurralada. Peço que a noite vá a correr e me deixe a luz apaziguadora.
Há Fantasmas...
Fantasmas que me atormentam.

October 21, 2005

Este é o dia

Este é o meu blog, um espaço onde desabafos e abafos únicos se aninham. Esta é, mesmo que ninguém a visite, a toca das minhas verdades sentidas.
Assim sendo, não podia deixar passar este dia em branco. Não porque seja mais importante que os outros no sentido em que pense mais em ti hoje por ser o dia da tua morte mas sim porque, de facto, este foi o dia que te levou de mim. Este foi o dia em que os médicos nos negaram um último adeus alegando ser pequena demais (era só um beijo...só um eterno beijo).
Este é o dia... Não me lembro se o senti há 14 anos atrás. Não é uma data que tenha decorado e tatuado na minha agenda memorial, mas a tua falta... oh, a tua falta não tem data, não tem dia de morte ou de aniversário.
Este é o dia em que decidi parar para escrever o que te digo em pensamentos e conversas ocultas - sinto-te todos os dias, és a minha linha condutora interior, o talvez único fio que não se quebra em mim.
Este é o dia em que não vou chorar a tua perda, mas alegrar-me por tudo o que me concedeste.
Este é o dia em que te ofereço um ramo de palavras de amor, porque amor foi tudo o que eu sempre senti por ti. (Ofereço-te também, por entre lágrimas escondidas e atrapalhadas com misturas hilariantes de tristeza e êxtase, um abraço... um abraço quieto, quente, onde sou criança de novo, onde sou tua e sem desilusões, onde calo a boca cansada e deixo falar o coração entupido)
Este é o dia da tua eterna vida.
Da sempre tão tua neta*

October 20, 2005

Fotografias de nada



It’s like I hardly see the skies some days


Nos meus dias onde se começam a preencher os vazios, persegue-me um vazio maior pintado a vermelho sangue. Sangue que espicha sarapintando-me o corpo que queima a cada nova marca.
Há a eterna, e sempre renovada, tão pouco original, falta do Outro. O Outro que nos encontra e apaga, apenas por momentos que acreditamos gravados no para sempre dos contos, o «vazio maior», lambe o sangue seco das feridas que indecentemente nos mataram.
Feridas… Tantas na minha alma acorrentadas. Eu, sempre tão forte, a colori-las sob o manto da invisibilidade. Assombram-me os pensamentos que afloram à imaginação sem um pedido de licença. Atrapalham, perturbam, sugam qualquer pintura deixando rasto do vazio. O odioso vazio.
Feridas que todos temos e tememos. Feridas que julgamos sempre demasiado nossas para as gritar, demasiado imorais… Só de as pronunciar atormentariam as vidas inexistentes que levamos.
Feridas… para dar e vender. Mas quem as quererá? Quem as não terá?

Um vazio de tudo e de nada. Um vazio solitário pintado de rostos humanos.
Um vazio tão cheio de coisa nenhuma.
Um vazio…
O meu vazio!
Shiiiiuuuu
É só meu, não o incomodem!

Deixa-me adormecer esta noite.
Música no Castelo: Portishead - Glory box

October 16, 2005

Castelo de Cartas


Sinto um emaranhado de palavras que pedem calma num papel, sinto uma dor domesticável que faz (querer) fechar as portadas da casa em que me habito… levando-me à solidão que tento adormecer num olhar que pede perdão.
Perdão por viver numa floresta
tão minha. Não é por mim que vocês cá não entram… Não vêem? Há ali ao fundo uma portinha disfarçada. Sim, eu quero a presença do mundo no mundo da princesa, num castelo de fortaleza… Só porque tenho medo, só porque sou assim não sei como.
Perdão por ver luzes
de cores diferentes.
Perdão por não decifrar o que me rodeia.
Há uma porta, enorme (mas mesmo assim camuflada), que vos pede baixinho que a empurrem e invadam a estabilidade que não me convém.

Há coisas demasiado simples para serem compreendidas.

Esta é apenas mais uma carta que constrói o castelo em que me escondo. Esta é apenas a dor da diferença que carrego (a diferença que mora em todo o meu lúmen, que amo mas tão pouco visível aos olhos dos outros… E então baixinho e cheia de medo, pergunto: serei feia?)
Um abraço último
que não consigo dar, como se não tivesse braços para agarrar quem amo. Já perdi tanto que não me atrevo a ter mais nada… mas nada é tudo o que vem e eu quero tanto tanta coisa.

I was looking for a place to stay.

Música no Castelo: Elisa - Rainbow

October 15, 2005

Lápis sem Bico



Onde é que eu estou, pergunto eu.
Que raio de paredes são estas que me vêem e me testam? As mesmas que me olham todos os dias…e ainda assim insistem em desacreditar-me.
Incrédula.
Uma gota de esperança, vendem?! Uma que seja. Esperança neste mundo de vidro.

Não sei escrever, hoje nem sequer sei o que sinto. Estou de bem com a vida, comigo… no entanto o meu umbigo, sempre tão descentralizado de mim, sofre pelas paredes que hoje se rasgaram.

Tudo se rasga


Engasgada, não vou tossir, nada mais há para se fazer ouvir.
Apenas desabafos que, em vez de serem despejados na pia, foram desenhados por um lápis sem afia… Gasto, velho, sem bico para escrever. Desenho sem cor, sem bico a dar forma aos rabiscos… Escrevo uma tentativa de escrita, uma tentativa de evasão, uma, sempre tão vaga, tentativa de alguma coisa que falta.
Música no Castelo: Alicia Keys - Goodbye

October 12, 2005


Não há nada que valha um Sonho.
(aproveito para agradecer aos amigos incondicionais e sempre presentes e à família com que fui abençoada por porem tabuletas de indicação que, quando me perco do trilho, me fazem voltar ao caminho dos meus sonhos. Obrigada por esta vida tão especial)



Música no Castelo: Humanos - Quero é viver

October 10, 2005

Vida de Loucos

A vida é de loucos
Certo e sabido,
Dado adquirido.
Mil ardores por entre
Deliciosos sabores
Vêm, vão, sentem-se, desaparecem
Em vão…
Que nunca seja,
Pois vivo com a esperança
De ter sentido.

Ter sentido na loucura?
Se louco não és,
Louco ficarás!
Mas vivo,
Louco ou não
(só peço que não seja em vão).

Vida tão louca
Que se mostra doce na luta;
Forte na queda;
Doce na lágrima
De quem por ela grita,
De quem dela necessita,
De quem nela acredita.
Que não sejas em vão
Vida maldita!

Uma questão de segundos

Grita, Explode
Respira Fundo, Controla-te
Berra mais alto
Bate com a porta
Acende a luz, VÊ!!
Acalma-te
Arranha-te
Estoura o corpo em movimentos repetidos à exaustão, movimentos que te apertam
Estica os pés, pontas com os nervos
Escreve sem métrica, sem
cuidado, com os olhos vidrados cheios de fúria
magoa-te
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhh
Grita, grita tu que ‘tás dentro
de mim, grita tu que te abafo sempre, grita agora que eu
deixo
Fecha-te escondida de adultos burros que te enojam.
Esconde-te, esconde-te pequenina
Encolhe-te. Encolhe-te mais
para que a merda não te toque
… mas já te tocou! Tocou-te
no teu interior.

Grita, Grita, Grita
Mas não sai nem um som

Nem um som
Apenas um milhão de dores
que se cruzam com ódios e findam em explosão
PUUUUUMMMMMMMM




Música no Castelo: Kanye West - All falls down

October 08, 2005

Macaco Jervásio

- Porque é que eles são pretos e nós somos brancos?
- O mundo está dividido em diversas zonas com temperaturas diferentes consoante a proximidade ao Sol.
Há milhões de anos atrás, determinado sujeito sofreu uma mutação (alteração no código genético) que o tornou mais apto a viver em zonas de temperaturas elevadas.
Essa mutação fez com que ele produzisse mais melanina que, através de processos biológicos e químicos, tornam o indivíduo mais escuro.
(o moreno que ganhamos no tempo de praia, tão apreciado, deve-se a esses mesmos processos de excitação da melanina).
A melanina fornece uma defesa eficaz dos tecidos epidérmicos contra os efeitos nocivos dos raios solares.
Assim, o sujeito que produzia mais melanina constitua um conjunto génico favorável, vivendo mais tempo (pois era mais resistente aos raios solares que os outros), reproduzindo-se mais, transmitindo as suas características aos descendentes.
Com o tempo, nas zonas mais quentes, os homens com maior produção de melanina foram seleccionados por selecção natural, enquanto os outros acabaram por desaparecer.

- Então é tudo uma questão de sobrevivência, do homem se tornar mais capaz em certos pontos do globo…

O macaco Jervásio demorou 15 minutos a perceber a que se devem as diferenças de cor. E você, quanto tempo mais demorará?

October 07, 2005

Papiro

Um papiro encurralado na garrafa
Perdido num mar qualquer
Desespera a minha morada
Com certeza!

Partiste, meu Amor
Sem quaisquer palavras
Silêncios amargos
Pelo meu amor decifrados.
Silêncios que não aprendi na escola,
Dores que pais não acorrentaram
E hoje…
Eu aqui, ali, além
Com as tuas palavras
Perdidas numa garrafa
Que um dia
Nunca
Chegarão a mim
Que as espero desesperada
Esquecida e enganada
Eu…
Eu que não te amei no tempo certo
Eu que te perdi sem te ter
Eu que te pedi, chorei, sonhei
Em absoluto silêncio
Tudo em mim é agora silêncio
Pedir-te?
Nunca mais.
Saberás pelo que vivo
No dia da morte
Talvez me ames
Como sonhei em vida


Causa: Afogamento

O medo inundou-me
Uma vez mais dou-lhe a mão, a princípio a medo, fingindo, encobrindo todo o mal que me vai… ele ganha terreno… até que, de repente, me ganha, me rouba, me viola. Aperta-me a mão (e apesar de eu dizer que não) ele insiste em seguir na minha direcção. Já sou toda dele, deixei de controlar a situação, aparece-me nos sonhos, faz-me gemer durante a noite, alucinar, pensar, pensar, pensar, alucinar.
Já nada faz sentido, é ele quem fala, é ele quem dita as regras, é ele que ordena aos meus músculos os movimentos estranhos que o satisfazem, é ele quem controla o cérebro fazendo-o projectar planos em preto (eu sinto-me perdida numa infindável dor de cabeça que simboliza apenas a minha entrega, a minha perda) …e toda eu deixo de ser eu para ser ele.
Incapacidade! Absolutamente incapaz de qualquer coisa, da mais simples à mais complexa.
Sou o Medo, é este o meu nome. Olá, chamo-me Medo, perdi-me a contar a minha idade, tenho as moradas do Universo, sou gordo do alimento que todos me dão. Vou a passear pela rua, páro em frente a uma qualquer porta, entro sem licença, apago as luzes (prefiro o escuro) … apago a luz da vida… instalo-me, o tempo que quiser… instalo-me!

A noite já não me pertence, já é toda estranha, cheia de calafrios, suores, arrepios que invadem todo o corpo (que já não é meu, o corpo rendido), imagens negras, vultos aterradores, suspiros, gritos de socorro abafados na aspereza do Medo.
Os dias são passos de desespero, de solidão, dor, sofreguidão. Já não fujo à situação, acredito nela, dou a mão ao meu desespero, sento-me à mesa com o meu assassino, sirvo-o com o melhor vinho e satisfaço-me ao vê-lo satisfeito. (as suas vontades começam a ser as minhas)
Projectos??? Não ousaria tê-los, nem por um minuto. Se abro a janela deixando soltar um raio de luz… o Medo, o Medo grita-me, ralha-me, insulta-me, cospe-me, ata-me e amordaça-me, apontando-me a sua pior arma suga-me… inunda-me dele!
Mergulho. O ar vai-se esgotar…
Um, dois, três
Ele não me deixa suster a respiração, o sofrimento é tudo quanto me permite, a dor veloz que me atormenta é o seu alimento, a minha derrota a sua vitória, enterrar-me viva o seu caminho.
Suga-me.
Sinto-me ser levada para o abismo. Abrem-me a alma, enfiam-lhe uma palhinha, bebem-me os sonhos, um a um… num doloroso tempo imenso (e eu a assistir. Compro pipocas, sento-me na primeira fila e assisto ao espectáculo) até que resta… o nada, um absoluto, redondo e obscuro nada.
Ponto final. Termo. Estou a ser sugada e a comer pipocas na primeira fila.