May 25, 2006

Tears and Rain

Fotografia de Fernando Almeida


As minhas palavras serão lágrimas
Águas que correm no peito de quem não te esquece
Fluidos que não te lavam
Que não te levam senão de mim para mim

Lutei. Nunca o bastante
Deixei-me por não te deixar
Esperei
Fugi para ser encontrada
Calei tempestades que destruíram os meus quatro cantos

Fiz de mim mulher perdida
Corpo vago de noite escura
Caminhei-me longe de qualquer sentido
Os pontos cardeais do meu mapa
Vivem nas tuas mãos fechadas aos meus caprichos

E dizer-te que acabei
Que não há nada em mim neste todo vazio
Faz-me querer calar as lágrimas
Do teu sorriso que me caem pela cara
E ao tocarem na boca…que saudades
Sempre, o teu sabor

Assim continuarei
Nem mago nem rei
Não por teimosia ou vontade
Por impossibilidade
Porque se eu pudesse…
Corria para te encontrar tão mais perto de mim.

Neste compasso
Calo a minha boca nas sombras que me ficaram de ti
Sonho-te e fico-me por aqui
Se ao menos tu soubesses
Estas são as minhas palavras na tua voz.
Para ti, meu mundo perdido
Música no Castelo: Goo Goo Dolls - iris

May 23, 2006

Picture of Time

Fotografia de Karina

Não sei que bicho esquisito somos nós que trazemos, na carapaça, passados e futuros de memórias que não se conjugam.

Não sei onde acaba o sonho e começa o medo. O que divide a angústia das palavras que me saem da caneta da emoção.
Não distingo a sabedoria sofrida da imaculada inocência.
Quantas de mim me buscam
Quantas de mim são náufragas das incertezas que levanto como ondas só para me atormentar.

Não percebo a serenidade dos minutos que me levam ao inevitável destino.
No corpo o que me corre para além de sangue?
Quantas vidas trago no bolso
Quantas cartas já joguei

Não sei que parte de mim escreve senão eu toda. Nas palavras que falam o que o homem se impediu de dizer.
Eu escrevo, oprimo no coração as memórias que carrego no berço, que serei sempre o ponto inexistente entre a ausência e a sabedoria. Eu escrevo para dizer que sinto, apesar de ter aprendido a ser humana.

Quantas de mim eu castigo pela inocência que não me permito viver

Quantas de mim reprimo por não me permitir ser eu

Quantas de mim me busco

Sonhei que brincava no jardim de baloiços felizes e que tu, perdido nos encontraste, com uma flor de amor na mão. As palavras não existem!

May 21, 2006

Não

Fotografia de Rafaela da Silva


Não sei com quantas mãos cavaste o meu vazio
Não poupaste esforços, posso-te dizer
Não calaria um ‘parabéns, foste fantástico’

Não sei se algumas outras mãos serão capazes de encher o que desgraçaste
Não procuro outras mãos
Não quis calar, hoje nem te ouço falar
Não estás aqui, abandonei-me

Não sei quem sou, tudo quanto me sobrou
Foi o estrondo dos tambores quando o teu coração desertou


Música no Castelo: Paco Bello y Bebe - No sabes cuanto te he querido

May 18, 2006

Coração vagabundo



Vou deixar estes dez dedos
De mãos que te sufocam em amor
Vou esquecer este cachecol de sentimentos
Que me asfixia as emoções
Vou afogar estas mil dores
Que trago vestidas no casaco do desalento

Vou saciar os cavalos magoados
Que galopam a cem na estrada de terra deste coração boneco
Vou calar o vazio cheio de tus
Que anulam a probabilidade de eus

Para pensar
Na Guerra
Na Fome
Na Sida
Na pobreza

Mais vale pensar no Mundo
Que o meu mundo arde com a lenha
Que nasce nos olhos que amam demais
E nunca haverá dor maior
Que a dor por nós chorada


Música no Castelo: Maximilian Hecker - daylight

May 16, 2006

Um palco à tua altura

Fotografia de A. Brito


E se a vida fosse uma música
Como a tocarias?
Uma faixa de cinco minutos
Quanto duraria?
Diz-me o que fazias dessa música

E se a vida fosse uma música
Estarias disposto a cantá-la?
Arriscarias enfrentar um palco?
Quantos sons te encheriam as mãos?

Se a vida fosse uma música
Eu pergunto sem resposta
Se a vida fosse uma música
Serias capaz de a amar?
De a ouvir e no fim respirar?

Se a vida fosse uma música
Eu jamais seria compositor
Levantar-me-ia com o vibrar do tapete nos pés
O som a rodear a alma livre
Dançava, para mim e para vós
No fim, ouvir o aplauso
Ver o brilho que se acendeu na sala
Chorar de amor
Por vós
E desvanecer
Em paz, de volta a casa



Fica um abraço forte a todos os meus companheiros desconhecidos que se deixam por aqui ficar.
Apaguei e escrevi estas frases dezenas de vezes, não sei como explicar que me partilham e que na partilha me construo melhor; que os momentos que deixam na Princesa são pura alegria… Fico-me por um sorriso

May 14, 2006

Marcas Negras

Fotografia de Marcio Murilo Pilot

Sabes as minhas linhas
E eu perdi as tuas
Decoraste as minhas letras
Nunca mais fui capaz de descobrir novas
Amaste o meu jeito
Eu desajeitei-me
E a vida levou-me
Longe e longe de sitio nenhum

O teu silêncio rasga os meus gritos


Escrito a 25.01.2006

May 11, 2006

Força Humana

Fotografia de Paulo Cesar


Sabes o que é frio na barriga?
A aragem do veneno que te constipa as entranhas?
Sentes a pele suspensa num tempo parado?
Aquela sensação
Sim, aquela
Os dedos a tremer em busca de nadas cheios de sonho
A cabeça a latejar pela dificuldade da sua (im)possibilidade
O dever do sonho
A força que te revolta e te faz acreditar
No mesmo momento em que estás prestes a vomitar
O coração que bate em pensamento
Por no pensamento só ter um pensar
E pensar que podia chegar o que te podem roubar…

Sabes aquelas coisas boas que vêm embrulhadas em glória
Em cálices de sonho
Taça erguida no final do campeonato
Sabes quantas fendas estouram no corpo pela realidade do verbo falhar?

Então sabes como me sinto…
Música no Castelo: Pearl Jam with Ben Harper - indifference

May 09, 2006

Precário


Se eu pudesse mudava tudo o que sou só para ser alguém diferente.
Melhor, pior, não importa.
Estou mais só do que sozinho
Deixei-me por caminhos que perdi
Não há maré que me molhe

E por mais que olhe
Que procure
Que finja
Não existe mais a minha casa
Não moro em mim, enfim, não moro nem no jardim

Não sinto o tempo
Sinto a irrealidade dos sonhos que me moram
Por isso morro, morro com eles como bolas de sabão beijadas pelo ar triste da realidade

Não há.
Apenas o vazio de ti que me apaga de mim
Vês esta marca?
Chama-se coração que bate sem razão
Não tenho moedas para pagar a entrada no meu circo precário.
Fecho as cortinas entregue ao meu calvário

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Vai
Só te peço que deixes a cama que já abandonaste há tempo demais.
Só peço que saias do corpo que carrego comigo, estou em desatino.
Como podes não estar aqui e continuar a controlar os meus movimentos como deus.
É por não olhares para mim que mendigo a tua direcção.
Só peço que me deixes em sossego, porque o movimento da minha alma é doentio e eu estou cansada.
Só peço que te vás de mim, porque há muito que saíste por aquela porta para não mais voltar. É essa a merda do sonho humano.
Ponto final


May 06, 2006

Parece mentira


Os teus lábios correm o meu pescoço sadio
Que esperou o teu vir tardio
Mal a luz do meu olhar apagou
Para sentir a sombra que ao meu corpo se colou

Estiveste longe todo o longo dia
Esta é a tua hora vadia
Cada segundo percorre o meu corpo vibrátil
Que te sente lunático

Sou capaz de sentir a dor do amor
Quando me devoras em calor
Calcas os demónios da tua ausência
Quando chegas em ilusão
Todos os meus sentidos se misturam
Numa orgia bíblica
Há o teu último toque que se despede
Até que partes…Até mais um dia
Em que deliro em pura harmonia.

May 03, 2006

Momento Final


Há quanto tempo deixaste os teus olhos nos meus?
Quantos truques usei para te quebrar?
Quantas forças manipulei para te esquecer
Quando recordar-te era viver?

Todos os feitiços do mundo
Falharam no teu nome
Não haverá um dia em que não te sinta
Um segundo que não nos minta

Trago-te no coração
Carrego-te nas costas pesadas
De sonhos que não te contei
Caminho os teus passos que não vejo

Toca-me para que saiba que estás aqui
Acorda-me e aninha o meu sonho
Olha-me para que me encontre
Beija-me para que as palavras se dissipem

Daria a volta ao mundo
Para encontrar o teu espalhado pelo meu
No fim ouvir os teus olhos lacrimantes
Em silêncio, no fim
Deixar o teu coração em amor
E partir
Porque sem ti, não há como fugir.


Música no Castelo: The Dave Matthews Band - Angel

May 01, 2006

És o meu fim de mundo

Cobres as noites de ti à distância
Onde distâncias são palavras
Cubro-te de desejos quentes
Com o frio do medo que dispo
Abraça-me para que não trema

Há cabelos que afagas
Monstros que domas nesse teu olhar
Admirada admiro-te
Sorrio porque em ti tudo é brilho
O meu olhar…é tão teu
Dançamos em passos sem importância
A música és tu
Pegas nas notas e regas o ritmo
Nas tuas mãos tens os meus sinais
Que te enchem
No olhar é o meu nome que te vive

Não fujas, não queiras
Fica
A praia é ali
O tempo não existe
Não mais corro por ti
Estás aqui
A alucinação faz-me sorrir
E eu sorvo de ti a minha felicidade
A minha mão tem riscos que escreves
Pega na caneta da vida e fica
Sou tua no nosso tempo
És príncipe no nosso conto de fadas.
Sou poeta e não aprendi a amar

A tua fotografia é o meu quadro