January 31, 2006

1 de Fevereiro

O Herói

Esfarrapado
Sequioso
Mendigo dos teus horrores
Actor de dissabores
Herói que me rouba aos pavores
Se tivesse letras
Formaria frases para ti
Da tinta roubaria a cor
Pintando realizações.

Não voas
E chegas sempre tão perto
Meu herói pedido,
Vejo-te deserto
Sendo o meu abrigo
Afagas as tuas dores
Cantando para as minhas

Meu herói
Perdeste a espada
E derrotas minhas lágrimas
Sem piedade,
Trespassa o sofrimento
Dilacera-o a frio
Arranca-lhe o significado e o sentido

(Dedico este poema a um dos homens mais importantes da minha vida. Em forma de letra tento dizer-lhe que torna a minha vida num espaço mais quente, protegido, não de tudo nem de todos, mas da falta do amor do Amigo. Se fosse Herói isto teria saido melhor...Mas o herói aqui és tu! PARABÉNS RUI)




January 29, 2006

A música dos Fantasmas que ficam

Os fantasmas existem
Aparecem formas que apagam outras
E todas me dilaceram

Há fantasmas em mim
E eu beijo-os
Abrigo-os como meus

Fantasmas que hipnotizam
Sugam a alma
Despem o corpo gelado

Fantasmas que me aninham
Em cantos fechados
E me recontam em mentira
Vidas que passaram e morreram
Há fantasmas que criei
Para as poder ressuscitar
E, por momentos de sofrimento,
Beber dores de amor



January 26, 2006

Esquimó


Naquele momento,
Deste-me um beijo eterno
Em forma de papel e palavra
Eu não soube
Guardei-o em mim para sempre
Não chegou
Não fui suficiente para te agarrar
Matar de faca em punho
O orgulho colado pelo corpo no corpo
Embrulhei o teu beijo
Guardei-o em forma de metáfora
Para que a lembrança tivesse forma

Os dois cegos de tristeza
Diziam mentiras cruéis
Cheias de bem-querer

Virei costas e fui
Sem saber que partia
E te rabiscava nos tecidos que me vestem a alma

Nunca mais voltei
E de ti sei apenas
Que escondes os rabiscos das palavras que não te disse quando as querias ouvir.



Música no Castelo: Anouk - Stop Thinking (acoustic version)

January 21, 2006

Nono Andar

As notas da música que ouço raspam nos meus sentidos que se confundem e vibram emanando uma mescla de sons.
Eu sou criança deitada num sofá, de olhos fechados, deitada num mundo, num fim de mundo tão prazenteiro
E as letras, as letras que escrevo são alfabetos que desconheço e me partilham.
E eu…eu, tão só-nada, só-tudo eu.
Estas são as prendas que me dou, quando o mundo não mais me souber amar. Chegou a Fénix salvadora, encontrei-me no alto dum prédio à minha espera.
…Segurei-me pelo braço…

January 18, 2006

Cá Fora

Se me sentar lá fora
Vou sentir o frio
Oprimir o peito de encontro às costas
Em busca de alento

Se me sentar lá fora
Vou sentir…
Saber que estou viva
Ver as bolas de fumo emanadas
Pela mesma boca que te chamou
Sentou
E
Deixou

Sentada cá fora
Cruzo-me com o mundo
Cães que correm
Pássaros que se esquecem no chão
Velhos nos bancos dum jardim da infância
Passos, muitos passos
A diferentes velocidades, a diferentes necessidades
Somos todos desconhecidos
Somos todos desmedidos

Hoje tive necessidade de sentar cá fora e caminhar os passos que todos damos.
Hoje eu não sou tu(a). Eu sou… Pássaros que me passam pela janela sem dizerem para onde vão.
Hoje… as letras saíram baratas com cheiros de realidade.

January 14, 2006

O médico diz que estou bem


Este querer desajeitado
Em jeito de não saber que apetecer
Este barco apartado
Que te desamarrou e amou
Estas águas quietas
Que pararam por te ver partir longe

Pergunto-me se saberás
Que sou o pedinte da rua de tua casa,
Que sou o ladrão
Preso sem perdão.

Este meu viver desajustado
Encontra-se com o teu olhar desfocado.
De portas procuradas
Encontro recantos esvaziados
Em que me vou ficando

Pergunto-me se notarás
Que sangro as cores do mundo
Para afagar os rasgões que me deixaste

Pergunto-me se poderei
Deixar que tudo se desvaneça
Que o dia me esqueça
Que a minha luz desapareça

Espero, atrasada

January 12, 2006

Ilusionista



Na cama devassa, beijas o corpo rendido
Uma cabeça fugidia, promessas minhas em silêncio
Fujo longe fixada ali
Palmilhas corpos vazios de emoção
Gemidos que escondem lágrimas à exaustão.

Fecho os olhos
Apago, sem perceberes, luzes de imaculada dor
Dor que bem me mata

Apaga a luz!

January 08, 2006

Vestido de Noite


Estou vestida de noite
Fumaça presente, real de tão densa

Espero o passar do tempo
O mastigar dos ásperos presentes
O deslizar permanente do passado

Espero o futuro
Não o ouço
Perdida num tempo imortal

Tudo são imagens

Assustada demais para saber continuar. As dores cobrem-me as costas, a solidão aconchega-se ao peito… Quentinha, estou fria. Caio aos pés dum estranho por chegar.

January 05, 2006

Open Thoughts



Deixa-me ensinar-te
Põe aqui as mãos
Acredita suave no que sentes
Sente o que eu quero
Que te invada

Deixa-me seguir-te
Pisar teus pés
Caminhar teus passos
Segurar-te sem medo de cair

Deixa-me ver-te
A olhar para mim
Queima-me as incertezas
Incendeia-me o mundo
Dança a nossa felicidade
Canta-me as cores de te ter
Enlaça-me
Pede-me, eu fico
Pede-me, eu não resisto.

O poeta é o pobre viajante dos sonhos que pinta. Triste é acabar um poema, findar o mundo livre.

Agarra-me
Que a ilusão de te ter
Segura-me a mundos que não suporto ser

Fica
Encontra a morada que esqueci