December 29, 2005

Cem palavras

Queria escrever
Mas as palavras sairiam todas iguais
Porque é difícil demais explicar-te
Que desmontas com duas mãos
O que eu preciso de um mundo para ‘re-arranjar’

É difícil demais pedir
Perceber porque me grita o coração
Porque sou errada, louca e emaranhada
Porque me apanhas nas tuas malhas
Em que teimo entrelaçar-me

Porque um grito devia bastar
Para acabar com todos os porquês
Que as tuas mãos deixam

Porque o teu respirar
Enche os meus pulmões

Porque a tua partida
As tuas partidas
Me deixam quebrada

Porque perdi o meu livro de instruções
Quando te vi.

December 26, 2005

Trincheiras


Se eu pudesse era
O poder de ser
Os buracos em que me escondo
Seriam casas em que te abrigas
Os espelhos em que me divido
Seriam as tuas imagens perfeitas
Os labirintos em que me cruzei e perdi
Seriam os mapas em que te encontras
E me encontras
E me pegas
E me beijas
E me abraças
Como se fosse tudo
E tudo fosse tudo
Tudo sem nada, despido de nadas
Como se me ver fosse
Descobrir o mundo numa esquina
Como se me pecar fosse
Curar-me dos males que bem me possuem

Se eu pudesse seria mulher

December 22, 2005

Boneca de Trapos



Por te querer embriago-me
Iludo-me como mágica
Brinco-me e sorrio
Usada nem choro
Vazia nem noto
Sempre, a tua boneca de trapos
Esfarrapas-me e esqueces
Imagens mortas invadem-me
A cabeça suja
De sangues que se choram
E as lágrimas escondem-se
Não voltes!
Não quero mergulhar em infernos
Como se fossem nuvens
De transporte mágico.
Vazia. Sou nada
E os nadas magoam tanto

December 19, 2005

Sem Abrigo


Leva-o de mim, Deus
Lava-o e enxagua-me
Cuida das minhas feridas
Que não sabem sarar
Lambe este sangue seco
Que me fez estagnar
Faz-me tua filha
Nesta noite amarga
Apaga-o de mim, Deus
Tu tudo podes
Eu tudo quero
Abandona-o de mim
Faz-me cheia de graça
Protege-me neste beco escuro
É frio aqui
Arde tanto este inferno
Perdoa meus pecados
Por favor,
Beija minhas dores
Faz-me tua filha
Ensina-me o que esqueci
Traz-me o eu Te pedi

Esperanças que nascem só para morrerem…




Música no Castelo: 3 Doors Down - Landing in London

December 17, 2005

Canção de ninar


O frio é a companhia na noite
As lágrimas os espelhos que se despedem
As notas de música
O estilhaçar de mins
Há milagres.
E estou embriagada na loucura
E danço e canso-me
Atiro-me do alto
E rio
Vejo luas em noites cinzentas
Cheiro cinzas
E sou eu a arder

Não me importa mais
O sentido quebrou-se
Na onda que não nasceu
Eu só quero o meu parapeito
A minha janela do mundo
As vidas solitárias
Que me desamarram
Dos laços que não sei cortar

Arranca-me daqui
Leva-me para um ali impossível

As palavras que escrevo
Estão cansadas
Adormeçamos, então.
Boa noite.
Fechar os olhos
E acariciar todos os inimigos
Que me cantam
Canções de ninar.

December 16, 2005

Senta-te comigo



Sentei e esperei
O teu retorno
Sentei e chorei
A tua demora
Sentei e desculpei
Teus erros
Sentei e pedi
A tua volta
Sentei e exagerei
Factos e verdades
Sentei e inventei
Dias diferentes
Sentei e revirei
Minha cabeça com tuas dúvidas
Sentei e penei
Por realidades obscuras
Sentei e temi
O que estava a acontecer
Sentei e acordei
Sentei e morri

Morremo-nos sem tempos.
Sentaste tu também?

December 15, 2005

Cuando pueda dormir



Há silêncios que se calam em dor.
Partidas que se lavam em venenos
Cheiros que não se apagam da pele que queimaste


Música no Castelo: Simple Plan - Untitled

December 10, 2005

Mar e Fogo

Quero arrancar-te de tudo
Calar-te e desaparecer
Quero amarrar-te
Trincar as tuas palavras
Com o ódio que sinto
Como meu filho
Eu sou estéril!

Quero calar-te
Porque me mastigam as certezas
Quero deixar-te
Porque hoje estou em luta comigo
Quero fugir
Porque os ponteiros da bússola
Estouraram no grito que se calou

December 04, 2005

Virada


Sonho-te acordada
Naquele momento que ainda é alucinação
Onde o escuro do quarto
Nos embriaga
Sonho-te e rodeio-me de sorrisos

Levanto-me e deixo-te no pijama
Que dispo
Adeus é a palavra que se cola
Onde, antes, as lágrimas rolaram
Lavo-te de mim com a água
Que escorre do chuveiro

December 01, 2005

Can you Find a scar of me on your face?

Este é o sangue que derramo

Este é o corpo que entrego

Esta é a vida que perco

Este é o espelho vazio

Esta é a casa que deixaste

Este é o espaço sem fim aonde eu não sei voltar

Estas são as chaves de ti que perdi

Estas são as palavras que esqueci

Esta é a lareira que apagaste

Esta é a porta que trancaste

Esta é o vestígio de mim

Este é o espaço de nadas

Estas são as palavras ocas que me restaram por trilhos de procura em que me desapareceste, em que me ficaste sem presença.

Santificado seja o teu nome


(escrito a 29.11.2005)

Carta à Mãe Vida


Oh vida, enrola-me no teu cobertor quentinho. Dá-me um presente nestes dias frios. Abriga-me da chuva que cai cá dentro.
Oh vida, ama-me só mais um bocadinho. Sem querer ser ingrata, há muito que te sinto perdida. Ter-te-ás esquecido de mim?
Vá lá vida, já chega desta fase... Não estarás tu cansada também?
Oh vida, por que raio me tramas e me deixas sem eira?
Vida, és quem mais amo. Espero o teu abraço que reanime o coração sem batimento, seco, frio, ferido, desiludido.
Oferece-me uma rosa, acaba com esta guerra que gera sangue...Morro de hemorragia interna
(É de lamentar a má qualidade, no entanto, quero que se dane!)