January 10, 2007

Fim

Fotografia de Tyt2000

Este é o tempo em que me deixo, perdida em muros de expressão onde me escrevi e risquei. Este é o castelo que deixo para vaguear ruas vãs, afagar os medos nas esquinas existenciais, fumar as palavras que me traçam o corpo. Saio, moribunda, descrente, deixando para trás mais de um ano de letras, mais do que uma vida, diria!
Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Em mais nenhum templo orarão as palavras minhas que se descolam dos dedos ora curtos, ora compridos. Desço as escadas da Princesa, olho para trás, guardo o retrato que se cola na retina.
E se ao menos tudo fosse igual a ti.
Sei que foi a única casa que me teve, em mim secam os restos das palavras. Despeço-me enquanto me despedaço. Espalho-me, quebro mais um pouco, como quadro que, com a idade, desbota.
Meu corpo é o teu corpo
É então o adeus, tem lágrimas como qualquer adeus que se preze. Choro. Choro-me pelo desatino de apagar a luz do canto que amei, cresceu e caiu.
Triste é o virar de costas, o último adeus. Sabe Deus o que quero dizer.
Serei sempre navegante de loucuras, construirei pontes e masmorras, sorrirei ao mundo, chorarei ao espelho.
Despedir-me de ti
Fico-me.
Deixo-me ao som
de um ponto final.
Música no Castelo: The Gift - fácil de Entender

January 01, 2007

Laranjeira

É preciso alguma coragem para decidir enfrentar quem somos, como se o presente e futuro dependessem da assimilação do passado, do arrumar das gavetas, do olhar de frente para o que, em tempos, era impossível olhar tamanha a crueldade que relembrava.
É preciso alguma coragem para procurar as chaves que nos abrem o futuro, sabendo que elas se escondem nas encruzilhadas que saltámos sem resolver.
Os cofres, não se abrem com palavras de auto-compreensão, com lágrimas que moeram por cada erro que matou quem amamos, mas é um começo… e para todos os caminhos há o primeiro passo, este foi o meu!
Não acredito que seja tarde, não acredito que o tempo possa medir a grandiosidade de vidas que, todos os dias, acordam sem saber ao certo que rumo tomar, domando todos os leões interiores e exteriores para que, ao fim do dia, tenha valido a pena, tenha crescido mais uma laranja no seu quintal. Pode sim, já ter magoado, maltratado, espezinhado quem mais queremos; cabe-nos fechar os olhos e acreditar que quem ama por gosto não cansa.
É preciso alguma coragem para compreender que no futuro está a nossa imagem, está o nosso ideal que pode ser conquistado.
Arregaço mangas, enxugo lágrimas, aqui estou eu. Fiz-me, soube-me crescer e remar contra o que, para mim, não desejava. Não, não fiz tudo isto sem mazelas ou sequer sem erros. Hoje só quero ter fé para acreditar que os erros são pistas que a vida nos dá para que possamos, cedo ou tarde (ou vá-se lá definir tempos), descobrir quem somos e entregarmo-nos em paz.
Assim te espero, eu, no sonho de que sintas quem sou, sem truques ou pós. É preciso alguma coragem para esperar…